domingo, 2 de maio de 2010

TRÂNSITO COM A VIDA...


Todas as experiências em educação para o trânsito de crianças e adolescentes objetivam capacitá-los a preservar suas vidas e saúde como pedestres e ciclistas, bem como contribuir para a formação de um cidadão consciente de seus direitos e obrigações. Espera-se que as lições aprendidas na escola perdurem até quando crescer e for motorista.
consideramos o principal objetivo da educação para o trânsito a preservação da vida e da saúde das crianças e adolescentes. Para isso, é necessário acrescentar ao conhecimento de atitudes seguras e ao desenvolvimento de habilidades psicomotoras, a consciência de seus direitos e obrigações, desde cedo, a fim de torná-los cidadãos plenos quando adultos. Não devemos esquecer, porém, que até os 9-10 anos de idade, a criança não deve andar sozinha em locais de trânsito intenso. Ora, se antes disso seu comportamento é resultado de condicionamentos feitos pelos familiares e amigos que a acompanham, são estes que têm de ser treinados para transmitirem conhecimento ao futuro pedestre e ciclista que transitará sem acompanhante. Não é por acaso que no exterior a educação para o trânsito de crianças envolve seus pais. E que muitas mães e pais voluntários se dispõem a caminhar com elas para a escola, transmitindo-lhes conhecimentos e comportamentos adequados à preservação de sua segurança.

Se ao aluno não for permitido refletir criticamente sobre o trânsito, sobre as conseqüências da liberdade do automóvel no sistema viário e se ele não puder vivenciar os valores éticos, as ações educativas não estarão contribuindo para a formação de um cidadão, nem de um motorista que respeite as regras por compreendê-las como condição fundamental para a vida em sociedade….. Assim, é importante dar oportunidade para os alunos exporem suas expectativas e crenças, mesmo que estas reflitam uma descrença no homem, pois é no confronto de idéias e crenças que se conseguirá a formação de cidadãos conscientes.

Comentário: a criança começa, desde cedo, a desenvolver comportamentos e atitudes que trazem implícitos os valores do ambiente humano em que está sendo criada. Quando chega à escola, seja como pedestre e, em muitos casos, até mesmo como ciclista, já tem comportamentos que resultam de vivências familiares e sociais, assim como decorrentes de sua interação com o trânsito no local em que vive. Portanto, não permitir que o aluno expresse essas experiências, muitas vezes arduamente vividas, é ignorar a realidade e educar no vazio. O professor sabe que é mais fácil ensinar a quem não sabe nada sobre determinado assunto do que a alguém que possa ter aprendido errado. Em matéria de comportamento no trânsito o assunto é muito mais sutil e perigoso, pois se trata de preservar a vida e a integridade do aluno. Um pai ensinou e treinou seu filho, corretamente segundo ele, a respeitar o sinal de pedestre que o permitia a atravessar a rua e chegar a um clube esportivo que freqüentava aqui no Ceará. Um dia, ao atravessar essa rua só, iniciou a travessia quando o sinal de pedestre estava verde e foi atropelado. É a realidade de hoje. Não a de ontem. Tampouco a do futuro, que deve regular nosso comportamento visando a preservar nossa vida e saúde no trânsito. E a de hoje mostra, a quem quer enxergar, que o pedestre não deve confiar somente no sinal. Portanto, é extremamente importante que o aluno revele o que faz no trânsito e porque o faz. A responsabilidade do professor em alterar esse comportamento é muito grande. No caso do filho atropelado seu instinto animal seria o de olhar para a rua, como fazem os cães e gatos. Instinto esse que lhe foi abafado com o ensinamento do respeito ao sinal de pedestre. O pedestre ou ciclista pode e deve respeitar o sinal, mas somente iniciar a travessia depois de uma olhada “animal” para confirmar se realmente os veículos estão parados ou em vias de fazê-lo. O uso de material retro-refletivo à noite é desconhecido da experiência vivida por nossos pedestres e ciclistas. Trata-se de prática indispensável para evitar atropelamentos. Não basta ver o veículo; é preciso ser visto pelo motorista, bem antes da aproximação do veículo.

A pesquisa foi realizada em 5 escolas públicas e 5 escolas particulares da cidade, com 400 alunos da 4ª à 8ª séries do Ensino Fundamental. Como resultado, concluiu-se que os alunos: percebem o ambiente de trânsito como violento; demonstraram estar conscientes dos riscos diários etc…….. Hoje, os alunos entrevistados devem ser jovens de 18 a 26 anos, na faixa etária com a mais alta taxa de mortalidade por acidente de trânsito. Muitos podem ser motoristas conduzindo seus carros e engrossando as estatísticas de acidentes. O que, então, pode ter ocorrido com a consciência crítica?…… Quando somos oprimidos, tendemos a reproduzir este papel quando temos condições para isto: segundo Paulo Freire, é a internalização do opressor.
Freud e muitos psicólogos que o precederam já conheciam o fenômeno da internalização, tanto de comportamentos saudáveis, como doentios. Não com a qualificação marxista de “internalização do opressor”, como a designa nosso ilustre educador. No caso de desvios sexuais é muito comum que indivíduos que tenham sofrido abusos sexuais quando crianças reproduzam esse comportamento quando adultos, com outras crianças. A moderna psicologia e psicanálise podem oferecer instrumentos pedagógicos interessantes para o desenvolvimento de valores e mudanças de comportamento em geral.

No entanto, refletir sobre o trânsito fornece a oportunidade especial de discutir sobre comportamentos que repercutem em inúmeros aspectos da vida do cidadão, trazendo para o debate não somente os riscos a que estamos sujeitos ou que criamos mas, fundamentalmente, a necessidade de se desenvolver uma consciência crítica sobre a responsabilidade coletiva.

Comentário: este parágrafo é um reconhecimento claro que os valores subjacentes a atitudes e comportamentos no trânsito também dão sustentação a múltiplas manifestações e ações do indivíduo em outras atividades sociais. Hoje o cidadão tem de estar informado, habilitado e pronto para conviver em harmonia com outros cidadãos, cumprindo suas obrigações e exercendo seus direitos. Refletir sobre sua condição de cidadão e buscar a prevalência de princípios saudáveis de convivência deve ser um dos focos principais da educação básica e não da educação para o trânsito. O trânsito, o meio ambiente, os jogos esportivos, por exemplo, poderão ser encarados de forma construtiva e positiva se os valores básicos do indivíduo se coadunam com o respeito e amor à vida e ao próximo. Por outro lado, situações concretas de solução de conflitos no trânsito, no uso e na preservação de nossa natureza, nas disputas esportivas, oferecem exemplos e oportunidades para a discussão e desenvolvimento desses valores.