Na floresta das montanhas todos os animais conheciam o leão de juba baixa que caminhava lentamente, parando só para bocejar, se alimentar ou beber água em algum lago ou riacho.
Perto dele um belo pássaro que costumava acompanhá-lo, cantando, parecia não chamar a atenção do triste felino.
Um dia o pássaro perguntou-lhe :
- Por que não te animas, triste leão? Sabias que a verdadeira vida é a dos que a saúdam sorrindo?
O leão olhou triste e disse:
- E por que vou sorrir se não sou feliz ?
- Ria, mesmo que de mentira. Procure rolar na relva, nadar nos rios. Urrar quando o dia nascer, e assim, aos poucos, sua tristeza vai desaparecer.
- Quer que eu me engane? - disse o leão.
- Quero que reconheça o seu real espírito, que é a alegria. Veja, aja como se fosse e você será. Aos poucos a sua alegria irá se tornando real. Nós, pássaros, não sabemos o que é ser triste, porque cantamos desde que nascemos. Desta forma, nunca temos tempo para chorar ou lamentar.
O leão pensou e se afastou. O pássaro viu e logo concluiu:
Ele vai refletir no que ouviu, acho que acertei em cheio na solução de seu problema.
O tempo passou e o leão sumiu. Um dia, numa manhã ensolarada, reapareceu o leão, que todos chamavam de triste.
Estava diferente, juba limpa, cabeça erguida, alegre e seus rápidos movimentos demonstravam uma agilidade que fazia esquecer a tristeza do andar de outrora.
O pássaro demorou para reconhecê-lo e quando o fez, perguntou:
-Leão triste, você agora está alegre ?
O leão lhe respondeu:
- A alegria estava dentro de mim, não me enganei fingindo ser alegre, apenas acordei o dom que a natureza a todos nos deu. Desta forma, sinto cada vez mais como você me disse, a alegria que tem a vida.
Assim, agradecendo, partiu correndo e rugindo pela floresta, o leão que um dia foi triste.
(O pássaro não canta porque é feliz, mas é feliz porque canta )
Bérgson Frota
(Escritor)
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